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Mudança como valor de empresa.

Publicado em
10/12/2019

Há duas semanas, meu amigo e sócio André Albuquerque publicou um texto muito interessante: “Como que uma banda de jazz moldou a maneira que a minha empresa trabalha?” Nesse, ele contou um pouco sobre o surgimento do nosso negócio, o Estúdio Marte, e como decidimos estruturar nosso time.

Já aviso que me basearei muito no conceito descrito por ele e, portanto, para evitar spoilers, recomendo a leitura de seu texto primeiro:

Como uma banda moldou a maneira como minha empresa trabalha?

Aviso dado, resumirei o conceito aqui: o time Marte é formado por um núcleo e uma rede de profissionais interessados em trabalhar conosco. Cada um tem sua especialidade e carreira própria. Quando surge um projeto, convidamos aqueles cujas expertises serão necessárias e esses, por sua vez, decidem se participarão ou não. Tudo baseado no modelo da banda Snarky Puppy.

Legal, não é? Mais legal ainda porque vivemos tempos de transformação no mercado e na forma de trabalhar. Pensar em alternativas é mais do que uma opção, é uma necessidade do momento.

Digo isso pois tenho visto cada vez mais as pessoas insatisfeitas. Seja por conta da carga horária de trabalho, das burocracias processuais ou das metas e objetivos de onde atuam, o desânimo tem sido assunto comum das rodas de conversa. É assim com muitos de meus conhecidos e era assim comigo também.

O mais curioso é ver que esse desânimo não era necessariamente fruto da falta de trabalho, salários baixos ou empregos ruins. Muitas vezes era mais visível em pessoas extremamente dedicadas e, podemos dizer assim, satisfatoriamente alocadas no mercado. Por que então essa frustração?

Sou designer e, acredite, talvez com exceção do aquecido mercado de experiência digital, ter uma renda fixa nessa profissão é uma dádiva. Todo o designer que já saiu da condição de freelancer para colaborador de alguma empresa sabe o quanto deve prezar pela estabilidade. O que levaria alguém a um desânimo suficiente a ponto de voltar a condição de incertezas?

Não há apenas uma resposta para essa pergunta. Na verdade, a melhor resposta engloba uma série de questões, de diferentes categorias: desejos geracionais, transformações no mercado e indústrias, evolução das ferramentas de trabalho e meios de comunicação, atualizações nas leis e estruturas trabalhistas entre outras. Naturalmente, parte dessas transformações é vista com maus olhos e parte com otimismo. Creio que a maioria há de concordar quando falo de como é positivo alcançarmos a auto suficiência para trabalhar tendo apenas um computador, conexão a internet e um punhado de softwares. Tudo fruto da evolução de nossas ferramentos e meios de comunicação. Ao mesmo tempo, acredito que também será consenso nos sentirmos inseguros com a proliferação das pessoas jurídicas em suas novas roupagens.

A grande verdade é que estamos imersos em uma bagunça daquelas: as rupturas são muitas, a necessidade de mudarmos é inerente, o processo de transformação é inseguro (pois erra-se muito no percurso) e não nos adaptamos mais aos modelos anteriores. O desânimo, a frustração e, de certa forma, uma certa ansiedade tomam espaço nesse contexto e tornam tudo ainda mais complexo.

Não vou iludir ninguém com uma solução mágica pois seria, no mínimo, leviano de minha parte, mas gostaria de ser propositivo. A transformação do mercado é um dos assuntos que mais me envolve e interessa e, assim como meu amigo André retratou em seu texto, a Marte é uma tentativa de resposta aos dilemas apresentados e que, felizmente, vem evoluindo a cada dia. É dela que venho obtendo inúmeros aprendizados e dos quais me basearei em meus exemplos.

Quando desenhamos o modelo de negócios da Marte e começamos a implementar a ideia de rede de profissionais, percebemos que o mais importante seria termos clareza dos benefícios e responsabilidades que tal modelo ofereceria bem como de suas desvantagens.

SIM, todo modelo tem benefícios e desvantagens, é sempre uma balança e a transparência é chave para seu bom funcionamento. Parece óbvio, mas é pouco verbalizado, concordam?

Não poderia ser de outro jeito. Se buscamos uma nova forma de atuar no mercado, cair nos erros das estruturas de sempre não nos atenderia, ao contrário, continuaríamos no desânimo só que agora em outra posição. Como disse Albert Einstein: “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”. Felizmente, parte dos valores que nos fizeram abrir a Marte eram diretamente ligados a transformar nossa própria relação com o trabalho.

Sendo assim, compreendemos o que nos caberia oferecer à nossa rede e o que estaria fora de nosso modelo. Entendemos que agir como comercial, oferecer infraestrutura, garantir condições de trabalho, se responsabilizar pelo alinhamento com o cliente, oferecer um ambiente de clima saudável e espaço para trocas entre expertises poderia ser extremamente valoroso. Permitiria qualquer um desempenhar seu trabalho da melhor maneira possível. Blindar o time e oferecer essas condições passam a ser nossas responsabilidades e deveres. O sucesso do modelo, portanto, gira em torno de sua boa execução.

Além disso, ao criar uma rede, devemos incentivar a conexão entre seus próprios membros. De maneira nenhuma posso monopolizar seus integrantes. Se membros dessa resolverem trabalhar juntos em outros projetos, devem ser apoiados. Se alguém da rede quiser me contratar para algum projeto, invertendo os papéis originais, também é maravilhoso; afinal sou parte da rede.

Poderia ser uma utopia, mas tudo o que escrevi acontece ou já aconteceu na Marte. Há um otimismo nosso e de nossa rede neste modelo. Ainda há muito o que aperfeiçoar, mas não vemos o desânimo que vivíamos em outras situações muito mais estáveis, o que penso ser o maior índice de sucesso para nossos objetivos.

Bom, não posso pregar pela transparência e não apresentar a contrapartida, correto? A falta de estabilidade é sem dúvida a maior delas e é aqui que se faz necessário um papel responsável. Prover a rede é essencial. Assegurar agendas contínuas de projetos é melhor que dez projetos em um mês e nenhum no seguinte.

Eventualmente alguém volta a empregos fixos na busca pela estabilidade. Saiu da rede? Jamais. Continuamos trocando ideias, conteúdos, informações e oportunidades. Os papéis no máximo podem mudar, mas todos ainda se ajudam. A rede não pode ser unilateral e nem tendenciosa.

Isso é sem dúvida uma das melhores consequências de se ter responsabilidades e papéis bem definidos e transparentes. A relação torna-se duradoura e virtuosa. Fazer parte de uma estrutura propositiva também nos incentiva a propor e criar.

A clareza desse modelo nos permite passos ainda maiores, pois ficamos cada vez mais livres para questionar os padrões de mercado existentes. Nossa jornada de trabalho tem uma hora a menos, sabiam? Porém, estamos produzindo mais do que antes. O comprometimento se torna outro. Entendemos que se uma atividade foi exaustiva, podemos encerrar o expediente mais cedo. Porém, quando algo exige um prazo, há a também a certeza da entrega.

E por aí vai, seguimos propondo testando e implementando dentro desse novo modelo. Sempre mantendo a transparência na relação entre benefícios e desvantagens, liberdades e responsabilidades. Esses são valores que, ao meu ver, tornam a proposição de modelos sempre bem vindas.

O que faltou dizer? Dá trabalho e exige paciência. Mas nos sentimos sempre recompensados e motivados por buscar mais, muito diferente das relações de trabalho que vivemos anteriormente.

Pessoalmente, sou fã do modelo do Snarky Puppy de gestão de banda com o uso de sua rede. Prefiro ele do que a gestão de carreira de bandas eternas como o Rolling Stones.

Vale lembrar, no campo musical eu recomendo ouvir as duas bandas, sem exceção.

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